Aline Jasper
Não se trata do endeusamento dos gatos. Pelo contrário do contrário. O eco que transita, sem perder força, é o da subserviência por parte deles. Os cínicos e misteriosos felinos estariam a serviço de nós, meros existencialistas? Os revestidos por uma terna pelagem estariam propensos à obediência? A máxima “dar para receber” configura uma interação recíproca de carícia?
Estabelecemos uma relação afetiva, supostamente, mútua. Até o mais cético reconheceria a correspondência por parte deles. Romantistas de noites mal dormidas romperiam com esse mito.
Domesticados, manifestam desdém profundo com os bípedes. São tratados, cuidados, bajulados, e retribuem com desprezo. Felinos são enigmáticos. Divertidos. E estupidificantes, diria. Por mais equivocado que pareça, não nos dão a mínima bola.
No ínfimo dos cuidadosos e flexíveis rastros, sustentam um detalhado e minucioso estudo sobre a raça humana. E, por vezes, percebo que manifestam uma sensação de perda de tempo. Como se a humanidade fosse um objeto trivial, pífio, fútil, banal, ordinário, vulgar, medíocre – e mais alguns adjetivos refletores da raça humana.
Nossas ciências positivistas, vãs filosofias, artes subjetivas e literaturas líricas devem ser, para eles, uma piada de mal gosto. Nosso caso é um caso perdido – por isso, não há vantagens que justifiquem a revelação deles, como seres absurdamente inteligentes.
Às vezes, entre meia e cheia xícara de chá, observo um deles desatando uma bola de lã. Aparentemente, direitíssimo. No entanto, acredito que o traiçoeiro está estruturando uma nova teoria macroeconômica, de proporções que deixariam Marxistas com os cigarros apagados.
Algumas bibliotecas empregam gatos. Em troca de ração, eles respeitam o silêncio e atribuem um teor lúdico ao estabelecimento. Um tanto exótico: os cautelosos e introspectivos felinos vagando pelas estantes de livros. Estes, na sociedade felídea, são os humoristas – e que comédia sem sal é o arsenal de escritos humanos!
Termino por aqui meu atrevimento. E espero, nesta noite, não transubstanciar em um cadáver imerso ao leite.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2010/03/o_segredos_dos_felinos.html#ixzz0ifDHaM9d
Não se trata do endeusamento dos gatos. Pelo contrário do contrário. O eco que transita, sem perder força, é o da subserviência por parte deles. Os cínicos e misteriosos felinos estariam a serviço de nós, meros existencialistas? Os revestidos por uma terna pelagem estariam propensos à obediência? A máxima “dar para receber” configura uma interação recíproca de carícia?
Estabelecemos uma relação afetiva, supostamente, mútua. Até o mais cético reconheceria a correspondência por parte deles. Romantistas de noites mal dormidas romperiam com esse mito.
Domesticados, manifestam desdém profundo com os bípedes. São tratados, cuidados, bajulados, e retribuem com desprezo. Felinos são enigmáticos. Divertidos. E estupidificantes, diria. Por mais equivocado que pareça, não nos dão a mínima bola.
No ínfimo dos cuidadosos e flexíveis rastros, sustentam um detalhado e minucioso estudo sobre a raça humana. E, por vezes, percebo que manifestam uma sensação de perda de tempo. Como se a humanidade fosse um objeto trivial, pífio, fútil, banal, ordinário, vulgar, medíocre – e mais alguns adjetivos refletores da raça humana.
Nossas ciências positivistas, vãs filosofias, artes subjetivas e literaturas líricas devem ser, para eles, uma piada de mal gosto. Nosso caso é um caso perdido – por isso, não há vantagens que justifiquem a revelação deles, como seres absurdamente inteligentes.
Às vezes, entre meia e cheia xícara de chá, observo um deles desatando uma bola de lã. Aparentemente, direitíssimo. No entanto, acredito que o traiçoeiro está estruturando uma nova teoria macroeconômica, de proporções que deixariam Marxistas com os cigarros apagados.
Algumas bibliotecas empregam gatos. Em troca de ração, eles respeitam o silêncio e atribuem um teor lúdico ao estabelecimento. Um tanto exótico: os cautelosos e introspectivos felinos vagando pelas estantes de livros. Estes, na sociedade felídea, são os humoristas – e que comédia sem sal é o arsenal de escritos humanos!
Termino por aqui meu atrevimento. E espero, nesta noite, não transubstanciar em um cadáver imerso ao leite.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2010/03/o_segredos_dos_felinos.html#ixzz0ifDHaM9d
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